quarta-feira, junho 20, 2007

Um de dois

Mandrake na capital

Marcela Duarte
Correio Braziliense
20/6/2007

Pela primeira vez, série da HBO baseada em obra de Rubem Fonseca é filmada fora do Rio


Qualquer semelhança é mera coincidência. Quem chegou à cidade nesta semana foi um advogado-detetive que, em busca de uma garota de programa desaparecida, se vê às voltas com um esquema de prostituição que envolve políticos. O sujeito em questão é o célebre Mandrake, personagem do escritor Rubem Fonseca que virou série de televisão no canal pago HBO. O céu acizentado e a vegetação seca que cobrem a cidade nessa época foram cenários para as filmagens dos novos episódios, que servirão como final da primeira temporada.

Segundo o diretor José Henrique Fonseca, é a primeira vez que a equipe sai do Rio de Janeiro para gravar. “A experiência foi maravilhosa. A história se passa aqui. Tínhamos que vir e foi maravilhoso. A cidade é repleta de símbolos”, avalia.

A Cor Filmes ficou responsável pela produção local da série, desenvolvida pela Conspiração Filmes, do Rio de Janeiro. Desde a noite de segunda-feira, uma equipe de cerca de 18 pessoas, entre atores, diretores e técnicos, percorreu vários cartões-postais da cidade e alguns lugares ermos. Na noite de segunda-feira, a Ponte JK a Catedral Metropolitana de Brasília foram os locais escolhidos. A maioria das gravações era dentro de carros — com exceção de uma parada perto da Catedral para comer um churrasquinho, seguindo o roteiro assinado por Tony Bellotto. Na manhã de ontem, as filmagens foram em estradas de terra próximas à DF-140. Os diretores e técnicos sempre estavam atentos ao céu e à vegetação. “Aqui queremos mostrar o horizonte, a chapada, que é bem característica”, explicou Andréa Glória, produtora da Cor Filmes.

Entre uma cena e outra, água e frutas ajudavam a espantar o sol quente, a temperatura de 32ºC e a baixa umidade relativa do ar — que chegou a 25%. Mesmo com o contratempo do clima seco, não faltou ação. A atriz Daniela Galli, que interpreta Melissa no episódio, teve que dirigir em estrada de terra. A poeira não impedia que a cena fosse repetida várias vezes, até que tudo desse certo. “Foi tudo muito gostoso. A equipe é ótima e isso ajuda muito”, contou a atriz, que estréia em uma série.

A discrição ao gravar nem chegou a despertar os fãs dos atores. Nos locais mais movimentados, como o gramado em frente ao Congresso Nacional, pouca gente reconheceu o ator Marcos Palmeira, que estava de terno e gravata. Sorte mesmo teve o vendedor de picolés Reinaldo Gonçalves de Melo, 25 anos, que vendou de uma só vez R$ 30 em picolés de fruta para toda a equipe. Segundo ele, foi Marcos Palmeira quem pagou. “Quando eles chegaram, não reconheci, mas como ficou aqui mais tempo perto do carrinho, tive tempo para me lembrar dele, da época das novelas na televisão. Ele é bem simpático”, disse Melo.

Entre os atores e diretores que vieram do Rio de Janeiro, Marcos Palmeira foi um dos que menos se incomodou com o clima. Palmeira é irmão da cineasta Betse de Paula, que morou em Brasília por muito tempo e aqui fez, por exemplo, O casamento de Louise. “Eu já imaginava que estivesse assim. Conheço bem a cidade. Já trabalhei aqui nesta época”, contou.

Sucesso
A série, inspirada na obra de Rubem Fonseca, é exibida em um canal pago, mas os diretores e atores comemoram o sucesso de Mandrake. O ator André Barros, que também dirige o seriado, diz que acreditava no sucesso da série. “É um personagem muito forte e desperta a curiosidade nas pessoas de acompanhá-lo”, conta. Para Marcos Palmeira, nessa nova fase a equipe está mais madura.

Cínico e mulherengo

O advogado criminalista Mandrake é uma das criações mais famosas e populares de Rubem Fonseca — escritor (formado em direito) que marcou a literatura contemporânea ao trazer sua leitura muito particular dos romances policiais para a realidade brasileira e introduzir a violência urbana em sua páginas. Cínico, mulherengo e fâ de vinhos portugueses, o personagem apareceu pela primeira vez em um conto do livro O cobrador, de 1979. Reapareceria em A grande arte (1983), E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto (1997) e em Mandrake: a Bíblia e a bengala (2005). As mulheres, aliás, vivem virando a cabeça do sujeito — mesmo que sejam elas grandes suspeitas nos casos que se atravessam na frente dele.

Atriz fascinada com monumentos

Os monumentos da capital federal, que muitas vezes passam desapercebidos por quem vive em Brasília, foram bem explorados pela direção da série e emocionaram atores. A atriz paulista Daniela Galli, que estréia na série, visita a cidade pela primeira vez. Daniela, que estudou arquitetura, pôde realizar o desejo de ver monumentos como o Congresso Nacional, o Palácio da Justiça e o Complexo Cultural da República. “Foi uma emoção muito forte. São obras que eu adoro e que são belas pela grandiosidade e pela leveza”, contou Dani, ao mirar o Congresso Nacional.

Depois de passar por duas novelas globais — Páginas da Vida, como a médica Marília, que conquistou o coração de Bira (Eduardo Lago), e Paraíso Tropical, como Diana —, Daniela disse que está muito satisfeita por ter sido escolhida depois de testes para fazer parte do elenco. Antes das novelas, ela participou de dois curtas-metragens internacionais. Para ela, atuar em uma minissérie tem sido uma experiência completamente diferente. A atriz foi a única da trama que acompanhou Marcos Palmeira nas gravações em Brasília.

As outras filmagens com diálogos entre os personagens foram feitas em estúdios no Rio de Janeiro. “Se Melissa vai continuar e aparecer em outros episódios, não sei. Mas, na trama, ela virou uma grande parceira de Mandrake e espero que volte”, afirmou. Melissa, que aparece como uma prostituta no caminho do advogado criminalista, acaba revelando outra identidade no final da trama.

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